segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Novo 'Resident Evil' é um dos melhores da série; confira crítica

Era 1996. Resident Evil, em sua cena de introdução com atores reais, mostra Joseph, parte do Alpha Team, vendo algo suspeito envolto pelo mato. Aproximando-se, ele encontra um objeto, que puxa para si. Com a câmera estática, o item entra lentamente em cena, revelando uma arma, porém há algo estranho. Uma mão decepada segura firmemente o cabo da pistola. Ao perceber isso, Joseph berra e imediatamente solta o objeto. Pule 16 anos para o futuro, para os minutos iniciais de Resident Evil: Revelations, para 3DS. Jill Valentine percebe algo suspeito dentro de um espaço cheio de água turva e gosmenta. Procurando cegamente com sua mão, Jill encontra algo. Ao puxar o objeto para perto de si, vemos que se trata de uma arma. Exatamente como há 16 anos, um braço, inerte, está agarrado a ela. Jill apenas olha para aquilo que segura, sem expressão, e calmamente a coloca no lugar onde estava. Esse contraste representa aquilo que é Revelations. O descaso dos personagens com o perigo que os cerca e o foco na ação, que surgiram em Resident Evil 4, estão presentes. Porém, a atmosfera do horror e a cadência vagarosa dos primeiros jogos da série também dão o ar de sua graça. Resident Evil: Revelations mescla o melhor de dois mundos e obtém como resultado um dos melhores títulos já feitos da franquia. Ele também é, provavelmente, o melhor jogo disponível até o momento para o 3DS. Um blend de Resident Evils novos e antigos... Na maior parte de Resident Evil Revelations você tem o controle de Jill, acompanhada de Parker, a bordo do navio Queen Zenobia. No entanto, a narrativa nos leva de tempos em tempos a outras duplas, às vezes em missões que estão ocorrendo simultaneamente aos eventos vistos por Jill, às vezes em acontecimentos passados. Essa separação permite que haja dois estilos de jogo dentro de um só. Quando estamos com Jill, Revelations aproxima-se dos primórdios da série. A exploração não é linear e há mais momentos de silêncio e tensão do que de combate. O jogo sabe quando é preciso cessar com a aparição de inimigos para preparar terreno para os segmentos de suspense. Eu não cheguei a tomar sustos, mas com certeza estive constantemente tenso, ansioso por ver o que poderia estar se escondendo atrás da próxima porta - isso, mesmo se tratando de uma tela pequena, em minhas mãos. Resident Evil: Revelations Quando o protagonista passa a ser Chris e outros membros da BSAA, o foco passa a ser a ação. Essas são as horas que se aproximam de Resident Evil 4 e Resident Evil 5, em que a quantidade de inimigos é abundante e eles não perdem tempo com apresentações, preferindo correr em grupo em sua direção. Os recursos disponíveis também são condizentes com a natureza dessas partes, com munições e ervas encontradas mais facilmente. Talvez soe estranho, mas essa mescla funciona. Há sempre um intervalo claro entre os segmentos, o que evita qualquer confusão que o jogador possa sentir sobre como ele deve agir. Mais do que isso, essa decisão permite que não seja preciso haver concessões a um dos dois estilos. A ação pela qual o jogo foi aclamado em Resident Evil 4 está lá, assim como o terror pelo qual a série passou a ser conhecida. Resident Evil: Revelations Como nos jogos mais recentes, a mira em Revelations é em primeira pessoa e é possível andar e atirar nessa perspectiva. É válido lembrar que Revelations pode ser jogado com o Circle Pad Pro, acessório que adiciona uma alavanca ao 3DS. Eu não tive acesso ao periférico, porém em nenhum momento o controle padrão foi desconfortável, e não me pareceu ser necessário utilizar uma outra alavanca para conseguir locomover os personagens com maior precisão. Apesar dos controles serem os dos títulos modernos da série, isso não diminui a proximidade aos Survival Horrors originais que as partes com Jill possuem. O terror se faz presente devido a outros aspectos, como o espaço de manobra nos ambientes fechados e os recursos limitados. Sobre este último, há uma mecânica inteiramente nova apenas sobre isso. ... e uma pitada de Metroid Prime Logo no início da aventura os protagonistas recebem um scanner. Além de servir para encontrar itens escondidos pelo cenário, ao usá-lo para analisar inimigos progressivamente é enchido um medidor. Quando este chega a cem porcento, somos recompensados com um item de cura. A sacada está no fato de que fazer isso em monstros vivos conferirá uma porcentagem maior ao medidor, mas, com corredores apertados e inimigos que não se movem como lesmas, é difícil conseguir analisá-los e ainda ter tempo de matá-los sem que eles nos ataquem. Isso cria cenários em que o risco e a recompensa devem ser levados em conta, pois as ervas extras, mesmo que úteis, não servirão de muita coisa se você estiver apanhando a cada tentativa de encher o medidor. Resident Evil: Revelations O sistema de aprimoramento das armas, parte importante de Resident Evil 4 e 5, retorna, mas dessa vez os armamentos não ficam mais fortes em troca de dinheiro. Para melhorá-los é necessário usar itens de modificações, sendo que cada um deles oferece benefícios específicos, como maior dano, maior velocidade de disparos etc. Eles podem ser encaixados em número limitados nas armas, o que às vezes traz situações em que um armamento tem parâmetros inferiores a outro, porém possui mais espaços para melhorias. Dito isso, eu não vi muitas vantagens em escolher equipamentos mais fracos, mesmo que eles pudessem receber um número maior de alterações. A razão disso é por não ser permitido encaixar melhorias de tipos iguais na mesma arma, o que me levou a simplesmente usar as mais fortes. Apesar de sermos o tempo todo acompanhados por um parceiro, a presença deles em nada se assemelha ao que foi feito em Resident Evil 5, em que tínhamos de nos preocupar com a munição e vida de Sheva. Infelizmente eles não são muito úteis, quase não ajudando nos combates. Querido diário, estou virando um zumbi Os personagens que nos acompanham podem não ser profundos, mas me surpreendi com o quanto me importava com eles ao final do jogo. Além disso,mesmo que a história seja, digamos, irrelevante ao panorama geral de Resident Evil (com a exceção de um único evento ao término da aventura), os acontecimentos pontuais são bem executados. O estilo que nos coloca no controle de vários protagonistas, em diferentes lugares e tempos, tem um bom ritmo, o que deixa o jogador engajado do começo ao fim. A única coisa com que Revelations realmente não consegue se acertar é o tom. Resident Evil: Revelations Existem momentos brilhantes de terror, especialmente devido ao recurso “querido diário, estou virando um zumbi”, em que encontramos relatos dos momentos finais de personagens que descrevem suas transformações em seres horrendos. O horror desses trechos ganha mais força devido a dois chefes que ainda retêm parte de sua consciência e humanidade, criando alguns dos momentos mais assustadores de toda a série. Não é incomum, no entanto, que tais cenas sejam contrapostas a comentários irônicos e fora de lugar, que às vezes são o suficiente para nos retirar do clima até então obtido. O mais estranho é que há uma dupla de personagens que controlamos que servem de alívio cômico ao jogo e, surpreendentemente, tiram de letra essa função. Não havia necessidade dos outros protagonistas soltarem frases e comentários levianos. Além da campanha, há um modo um adicional, chamado Raid, que nos coloca em missões curtas, cujo objetivo é chegar ao fim dos estágios. As fases são repletas de monstros e alguns deles possuem características especiais, como maior defesa e velocidade. Ao final, somos recompensados com pontos, que podem ser usados para comprar novas armas e equipamentos. Além disso, os personagens também sobem de nível, o que os habilita a usarem outros armamentos, além de destravar objetivos extras, que devem ser completados no meio das missões. O modo oferece algum divertimento, especialmente se jogado com outra pessoa, mas sem as desculpas da trama eu não me vi impelido a retornar muitas vezes a ele. Além disso, no modo online, não é fácil encontrar pessoas que estejam no mesmo nível e querendo passar pelas mesmas fases que você. É possível ativar filtros que especificam o tipo de partida que você procura, mas, em minha experiência, só pude encontrar pessoas querendo jogar quando procurando sem nenhuma forma de restrição. Resident Evil Revelations tem seus tropeços e ideias que não chegam à plenitude, mas, mesmo levando isso em conta, o resultado final ainda é o de um dos melhores jogos da franquia já feitos. Ele combina com perfeição os dois espectros que melhor definiram a série e cria algo que pode vir a ser a nova definição do Survival Horror. Quase um ano após seu lançamento, esse é o jogo que faz o Nintendo 3DS valer a pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário