terça-feira, 11 de setembro de 2012

Crítica: Resident Evil 2 – Apocalypse

Qual o grande problema de sequências? Tal frase é tão proferida por cinéfilos e afins quanto a famosa “o filme é bom, mas não supera o livro”. Não é uma generalização, até porque existem algumas sequências que conseguem superar o início. Casos famosos concentram-se em Harry Potter e as Relíquias da Morte, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, Toy Story 3 e Batman – O Cavaleiro das Trevas. Mas são algumas minorias entre muitas sequências. Por melhor que Resident Evil – O Hóspede Maldito tenha sido, por mais amarrado que tenha sido seu roteiro e por mais excitantes que tenham sido suas cenas de ação, ele não escapa da maldição de sua sequência, o que traz Resident Evil 2 – Apocalypse como o pior da franquia.


Começamos aqui exatamente onde o filme anterior termina. Alice (Milla Jovovich) acorda numa maca de hospital, coberta por fios em sua pele. Quando ela consegue sair do recinto, se depara com o apocalipse zumbi na cidade de Raccoon City. Carros estão destruídos e jogados no meio da rua, não há sinal de uma alma viva, prédios quebrados e incêndios em todo lugar. O objetivo de Alice agora é escapar da cidade e, para isso, ela conta com a ajuda de um grupo de sobreviventes, alguns deles agentes da corporação Umbrella: Jill Valentine (Sienna Guillory), Peyton Wells (Razaaq Adoti), Carlos Oliveira (Oded Fahr) e a repórter Terri Morales (Sandrine Holt).

 De início, a visão do longa metragem nos traz uma claustrofobia certeira, que chega a prometer algumas cenas de ação e suspense. Começamos numa cidade em quarentena, onde policiais abrem fogo em quem tenta sair. A visão dos personagens presos transforma Raccoon City, em nossa cabeça, num espaço menor do que ele parece. A fotografia escura – o que não é um elogio – de Derek Rogers funciona nessa primeira parte, que dura pouco mais de dez minutos. Infelizmente, daí em diante, a promessa se quebra.

 O roteiro, logo após o começo, se perde para jogar ao público o máximo de cenas de ação que ele conseguir. Lembram-se do primeiro filme? Exatamente, aquele que não foi tão fiel aos jogos da Capcom. O segundo segue uma direção diferente, ele quer ser fiel a todo custo. Tão fiel que se torna confuso, as cenas deixam de ter ligação, o espaço-tempo dos takes se perde ao decorrer da sessão, a fotografia escura nos deixa confusos e desfavorece completamente todas as cenas em que a ação aumenta. Culpa disso está tanto na edição rápida e inquieta quanto na direção sem foco de Alexander Witt. Se no primeiro filme da franquia as cenas de ação se pausavam para aumentar o momento de clímax e eram bem coreografadas para o público poder ver e sentir o que acontecia, o segundo filme só nos dá a ideia de como as cenas estão indo, sem nenhum apelo visual para o espectador.

 Fora a direção de Witt e o péssimo roteiro de ação de Paul W.S. Anderson, quando o assunto é personagens o filme se supera. Extremamente fiel ao jogo de terror, ele nos dá personagens já conhecidos (Carlos Oliveira, Jill Valentine) e brinca um pouco mais com a figura da protagonista Alice, usando algumas cenas, golpes e vilões vistos nos videogames. Sienna Guillory não rouba a cena com sua atuação como Michelle Rodriguez tinha feito no primeiro filme, mas é difícil tirar os olhos delas pela semelhança com a personagem dos jogos e pelo sex appeal exalado. Mike Epps é o típico exemplo de tentativa de comédia para o longa metragem, que não funciona tão bem no meio do suspense e só serve para afastar o espectador da emoção da fita. Oded Fehr e Sandrine Holt não fazem tanta diferença assim e aparecem para uma ou duas cenas de ação a mais. O filme, como todos da franquia, é de Milla Jovovich. A atriz consegue roubar a cena sem tanta energia sexual – que carregava no primeiro filme com um vestido vermelho – e com bastante jogo de olhar e voz. O público ainda se exalta quando ela aparece em lutas.

 Não importa o quão fiel Resident Evil se tornou em relação aos jogos. O que importa é que a essência dele se perdeu. O jogo de terror se tornou um filme de ação, e uma ação que só serve para divertir nos poucos minutos de sessão. O roteiro perde credibilidade quando joga personagens em cenas desconexas. Como fomos parar naquele cemitério após uma igreja, no fim das contas? Resident Evil 2 – Apocalypse é um exemplo perfeito de um filme que se tornou um jogo de videogame, um jogo de videogame rápido que não dá emoção nenhuma para quem joga. A maldição da sequência foi lançada e não há muito que se possa fazer para impedir que os filmes seguintes se tornem tão ruins quanto o segundo da franquia.

Resident Evil 2 – Apocalypse (Resident Evil: Apocalypse, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, 2004)
 Direção: Alexander Witt
Roteiro: Paul W.S. Anderson
 Elenco: Milla Jovovich, Sienna Guillory, Oded Fehr, Matthew G. Taylor, Mike Epps, Sandrine Holt, Sophie Vavasseur, Jared Harris, Thomas Kretschmann, Razaaq Adoti, Zack Ward, Iain Glen
Duração: 94min.

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