sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Crítica: Resident Evil 5



RESIDENT EVIL 5 - RETRIBUIÇÃO (Resident Evil: Retribution, Alemanha e Canadá, 2012). Direção e Roteiro de Paul W.S. Anderson. Com Milla Jovovich, Sienna Guillory, Michelle Rodriguez, Aryana Engineer, Bingbing Li.
Se eu não me engano, é em Rocky II (1979) que o personagem-título descobre que tem um problema em um dos olhos que o impede de ver os golpes dos adversários e que, caso continue lutando, pode deixá-lo cego. É um dado importante para a construção do drama do filme -- mas que é simplesmente deixado de lado, como se nunca existisse, nas quatro continuações posteriores da franquia.
A série Resident Evil é mais ou menos assim: estabelece elementos novos em cada capítulo para serem simplesmente abandonados no filme seguinte. A sua mitologia e diegese são uma bagunça -- ainda que usar o termo "diegese" (o universo ficcional onde se passa a narrativa) para filmes deste tipo pareça pretensão. Mas tudo bem, as regras da narrativa se aplicam em qualquer caso e mesmo num título abertamente descerebrado elas se mantém.

A questão é que o diretor e roteirista Paul W.S. Anderson trata Resident Evil ao seu bel-prazer. Claro que uma consistência narrativa e mítica sempre dão melhores filmes. Ele, contudo, não parece se importar com isso: o que ele quer é dirigir elaboras cenas de luta e tiroteio, repletas de câmera lenta e efeitos digitais, numa emulação direta da trilogia Matrix. Basicamente, é isso que Resident Evil 5 - Retribuição oferece.
Se alguém se lembrar de Resident Evil 4 (alguém lembra?), saberá que Alice (Milla Jovovich) perdeu seus poderes ao matar o vilão. Pois, surpresa: além do vilão não ter morrido (não se explica isso) e agora ser um aliado, Alice ainda continua capaz de lutar com dúzias de zumbis dando saltos incríveis e tiros certeiros. Seus poderes, enfim, não parecem fazer diferença nenhuma, já que ela continua sendo capaz de fazer o que sempre fez.
A história começa exatamente onde parou na parte 4. Quer dizer, isso é modo de dizer: passa-se algo em torno de meia hora de filme até que a trama de fato inicie: Alice acorda numa instalação subaquática da malvada Coorporação Umbrella e, ajudada por Ada Wong (Bingbing Li, num personagem tirado diretamente dos videogames), precisa não só fugir e encontrar uma equipe de resgate, como também destruir o vilão do primeiro filme, o computador Rainha Abelha.
O filme inteiro é tratado como um videogame. A instalação na verdade reproduz os centros de grandes capitais do mundo e cada um deles é como uma nova fase de um jogo, contendo seu tipo específico de aberração zumbi. Tem zumbis gigantes com machados, zumbis militares, zumbis monstruosos e, olhem só, até zumbis tradicionais, além de clones -- o que permite a "ressurreição" de alguns personagens do primeiro filme (e, portanto, o retorno de Michelle Rodriguez à série).
Se no primeiro e no quarto títulos da franquia havia uma história amarrada (ainda que simples), aqui a narrativa avança às tropeçadas. A montagem paralela entre a fuga de Alice e a infiltração da equipe de resgate nunca funciona para transmitir a urgência que a história precisa. Paul W.S. Anderson também parece preocupado em fazer uma direção estilística em excesso: ele abre o filme com uma interessante cena em reverse shots (em que a ação acontece de trás para frente) em câmera lenta -- apenas para repeti-la um minuto depois, em velocidade normal e na cronologia certa, sem motivo algum (já que fica claro o que acontece da primeira vez).
Por fim, o 3D tão elogiado em Resident Evil 4 aqui é sub-utilizado. Ainda há planos interessantes em que se explora bem o efeito, mas em outras se faz o óbvio (machados e balas saltando em direção à tela). Parece que o diretor acertou sem querer no capítulo anterior, já que a sua outra produção em 3D, a mais nova versão de Os Três Mosqueteiros, também falhou neste quesito. Por outro lado, os efeitos especiais estão muito bem realizados (o zumbi monstro é muito convincente).
Um bom entretenimento? Não chega a tanto. Tem mais é cara daqueles filmes dos anos 80 e 90 que eram mais divertidos quando vistos no videocassete.

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